Lembro-me daquela cena, horrível, do senhor dr. secretário-geral do PS a exibir o seu miserável telemóvel e a declarar, ipsis verbis, em tom de vítima auto-proposta, "continuarei a falar neste telefone como se ele não estivesse sob escuta, utilizando a minha liberdade de poder exprimir-me com os meus camaradas, a minha família e os meus amigos". Isto passou-se no dia vinte e um de Julho. Mas, antes, no dia vinte e nove de Junho, dizia a mesma personagem pelo seu nokiazeco, "ó pá, não achas melhor ter esta conversa noutro telefone?". Este sinal de fraqueza, em clara contradição com a coragem anteriormente conhecida, terá certamente um efeito negativo sobre a avaliação do senhor dr. secretário-geral do PS que os gentios têm a mania de ensaiar. É que eles, os gentios, gostam de políticos empinados, com bons telemóveis, que não necessitem de recorrer a outros telefones para manter um diálogo sobre o bigode do senhor dr. procurador-geral da República. Quando não é assim e quando não se sabe vigilar o segredo da própria fraqueza, os gentios tornam-se potenciais e incómodos sujeitos de suspeita. O que é meio caminho andado para a desgraça daqueles que são objecto de suspeita. O raio da democracia é isto. Nicky Florentino.