Eles, ela e ele, compraram um candeeiro. Assustador. Capaz mesmo de matar velhotas de gosto mais bem amparado, coitadas. Arrumá-lo na bagageira do automóvel, isso, é que foi obra do caraças, manobra que exigiu engenho e destreza de rapaz habituado a carregar uma mochila Coronel Tapioca e a manipular canivetes suíços. Para além de peça medonha, o candeeiro não era instrumento de arrumo fácil. Mas conseguiram compô-lo no compartimento sem lhe infligirem flagelo ou estrago.
Entretanto, ao cabo desta missão, ela, com cândida fronha e em cuidados com a integridade da aquisição, virou-se para ele e impôs: "eu é que levo o carro!". Ele, indiferente, soberano, homem, fechou o porta-bagagens, entrou no carro, sentou-se, colocou a chave na ignição, com uma mão segurou o volante e com a outra despertou o motor do carro. E ela, cá fora, em pleno parque de estacionamento do Continente, a espernear que nem uma azougada cabrita do monte, insistia: "mas tu estás a ouvir?, eu é que levo o carro!, eu é que conduzo!". Pelo que se viu, só se for em casa. Algum lego da Noruega que por lá exista. Ora, olha a gaja!, a manienta!... Nicky Florentino.