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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2007-07-12


no terraço Villiers. Ao princípio sentiu nas mãos um ardor pequeno, quase nada. Ignorou esse facto, o sintoma não a demoveu. Vestiu um casaco, para acautelar-se em relação à temperatura. Ouvira num noticiário da rádio durante a manhã uma referência a acentuado arrefecimento nocturno e, por ser mulher de sangue quente, não estava para confrontar-se com o frio eventual. Assim vestida, saiu em direcção à esplanada. Chegou, sentou-se, pediu um café, fumou um cigarro. Sentiam-se os prenúncios outonais. O vento mais levantado, não brisa apenas. O céu mais nublado, no entanto cortado por uma claridade da lua, incomum para aquelas noites. Ela era a única cliente na esplanada. Depois de beber o café fumou outro cigarro. Nesse momento já sentia o corpo mais quente. O sangue começou a parecer-lhe uma torrente de lava. Porém não transpirava e a sua pele não ruborescera. Sentia a face e as mãos febris, mas não inchadas. Ao mesmo tempo, a visão começou a parecer-lhe em fast foward, não obstante tivesse uma definição superior ao costume. Conseguia ver coisas, pormenores, detalhes, que antes nunca percebera. Todos os seus sentidos estavam sob tumulto, como se estivessem afinados extraordinariamente e em exercício de sondagem permanente. Sentiu distorções ligeiras no olhar, que atribuiu a uma aceleração das sinapses. Para além da estranheza do estado em que se sentia, ela não suspeitava o que estava a acontecer-lhe. Foi por essa altura que um homem com o torso nu sentou-se numa mesa ao lado da sua e saudou-a, sorrindo e dizendo boa noite. Não conseguiu retribuir o cumprimento, algo a silenciava. Atordoada por zunidos, o mais que conseguiu foi ouvi-lo pedir um café à empregada. Entretanto a temperatura aumentou dentro de si. Sentiu dissipar-se a capacidade de controlo dos seus actos e ser conduzida a uma situação de vertigem indescritível. Pouco depois, como transmutada em fera, lançou-se sobre o abdómen do homem que esperava o café e devorou-o. Devorou-o literamente, auxiliada pelas mãos que operavam simultaneamente como gumes e grampos, golpeando e abrindo a carne, para que pudesse ser mastigada mais facilmente. A cena demorou minutos breves, não mais de seis, sete. E, entre as poucas, nenhuma testemunha verificou nela qualquer propriedade estranha, garras em vez de mãos, incisivos de carniceiro, pelagem bravia ou orelhas afiladas. Era uma mulher apenas. Uma mulher como as outras. o Marquês.


2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).